segunda-feira, 15 de junho de 2009

Então...

Existem palavras em nossa vida que apresentam função extraordinariamente variada. Isso porque palavras não são só palavras, ainda mais quando regadas com caras e bocas. São expressões, sorrisos, olhares. Uma palavra bem colocada pode emocionar, traumatizar, marcar toda uma vida. Sim e não, na boca de uma mulher, podem ter sentidos inimagináveis.
Mas a palavra de hoje não é nem sim, nem não. Nem ontem, nem hoje ou amanhã. Nem agora, nem depois. A palavra é: ENTÃO.
De acordo com o Houaiss (por sinal, amo e odeio esse nome), temos algumas definições:
- advérbio (nesse ou naquele momento; nessa situação; em momento futuro).
Ex.: Quando vocês estiver mais velho, aí então compreenderá tudo!
- interjeição (admiração, espanto; animação).
Ex.: Vamos lá, então!?!
- substantivo masculino.
Ex.: Num belo dia de então, surgiu a bela noiva.


Tudo devidamente explicado e exemplificado. Mas não há situação em que “então” melhor se encaixe do que como “palavra iniciadora de notícia complicante” ou “termo próprio de indiferença ou desprezo” ou, ainda, “prefixo de má notícia”.

Seguem, abaixo, os exemplos:
- palavra iniciadora de notícia complicante.
Roberval está em sua sala de trabalho. Sempre cumpriu com suas obrigações. Ainda assim, nunca foi um funcionário muito brilhante; Roberval não era muito criativo. E considerando que este trabalhava em uma agência de publicidade, ficava inviável mantê-lo empregado. É chamado pelo seu chefe:
- Roberval, como vai?
- Feliz, Sr. Tibúrcio. E realizado, já que trabalho nesta empresa para a qual tanto me dedico!
- Então... Era sobre isso que gostaria de falar...
Notem que não há necessidade alguma de descrever o final da conversa. O termo “então”, neste caso com função de “palavra iniciadora de notícia complicante” e ainda, se confundindo como “prefixo de má notícia”, inicia a notícia de forma sagaz.

- termo próprio de indiferença ou desprezo.
Aninha havia se encantado por Alexsander. Como sempre fora uma menina tímida, pediu para Carolyne perguntar para Alex o que ele pensava sobre ela.
- E aí, Alex... certinho?
- Faaaala, Carol! O que é que manda???
- Ah, sabe o que eu ia te perguntar? O que é que você acha da Aninha?
(silêncio... e um grilo cantando, até que...).
- Então, Carol...Sei lá...
Vejam como há um corte importante na conversa. Forma-se uma tensão tão forte, que seria possível cortá-la com uma tesoura. Alex definitivamente não dá a mínima para Aninha. Talvez, nem saiba que ela é.

- prefixo de má notícia.
Situação muito comum em hospitais.
- Doutor, como está minha avó?
- Então... nós fizemos o possível...
Reparem na finalização desnecessária da informação médica. Para bom entendedor, um pingo é um ponto. Imagine só um então.

Eu mesma sou adepta do então. Muitas vezes sinto que a única palavra que poderá me salvar de situações complicantes é a palavra então. Até mesmo para desligar o telefone. Muitas vezes a conversa – mesmo boa – já está chegando no fim, e a pessoa do outro lado da linha permanece contando a respeito da bala de côco que a Dona Florinda fez, e acabo soltando um “Então...” (nestes casos, as reticências são insubstituíveis).
Ou mesmo aquele cara chato, na balada ou qualquer outro cenário, que insiste em te paquerar... Até que, em um belo momento você resolve tudo – tudo mesmo – com esta simples palavra: “Então...”.
Sendo assim, não havendo mais nada para ser declarado, apenas reflito e digo...
Então...

2 comentários:

  1. Muitas vezes o "então" precede um silêncio que só é quebrado por alguma observação sobre o clima, uma das maiores marcas de que a pessoa está sem assunto, quer evitar qualquer assunto em si ou quer desviar de um assunto pendente.
    Eu tenho trauma dos "então" que precedem os momentos "parem as máquinas e fujam para as montanhas", acredito até que o piloto do Enola Gay tenha dito "então..." antes de soltar a bomba sobre Hiroshima.

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  2. Então...As pessoas gostam muito de usar essa palavrinha comigozinha. Humpf! :(
    Adoro o seu blog!!! sabia?! Então... Beijos!!!

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